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De holtz a medeiros: seríamos descendentes de robin hood?

Por dois anos procurei os artigos originais de um primo de minha avó, o Armando Medeiros, a quem não tive o privilégio de conhecer. Armando tinha sede de pesquisa, publicando muitos artigos na revista Blumenau em Cadernos sobre seus [nossos] antepassados. Encontrar seu legado se tornou minha obsessão.

Descobri que no arquivo histórico de Blumenau, da FCBlu, existe um acervo com todas as edições da publicação. Depois de finalmente encontrar o contato da pessoa responsável, enviei meu pedido: onze artigos com suas devidas referências bibliográficas. Qual foi a minha surpresa quando recebi esta resposta: “O senhor Armando era filho de uma grande amiga, a dona Grete. Um exemplo de vida para nós. Esta publicações foram publicadas por mim na revista, pois sou diretora da mesma há mais de 20 anos. Seu pedido será providenciado. (Sueli M. V. Petry)”

Com os artigos em mãos, entrei em contato com o irmão de Armando, Murilo, para contar as boas novas. Por coincidência [ou não], no dia anterior seu irmão João Alfredo perguntara onde poderia encontrar tais textos. Encaminhei o material, recebido com muita alegria, e durante semanas trocamos e-mails e mais textos, ajudando-nos uns aos outros em nossas pesquisas.

Esse artigo é um dos meus preferidos: “Vem de longe, muito longe” e aqui publico, com autorização dos irmãos, na íntegra:

Cópia do artigo “Vem de longe, muito longe” de Armando Luiz Medeiros publicado na revista Blumenau em Cadernos



A quem ler esta genealogia

Armando Luiz Medeiros

A apresentação desta genealogia foge aos insípidos padrões geralmente utilizados em trabalhos semelhantes.

Sempre que possível foi usada uma forma descritiva, acompanhada de passagens relevantes ou de fatos curiosos da vida de cada personagem.

Para facilitar a leitura, foi usada uma convenção muito simples. A linha genealógica principal foi considerada como sendo aquela que acompanha os nomes através das gerações; em geral é a linha paterna. Os nomes dos ancestrais diretos aparecem sempre em negrito.

Não houve regra fixa para a grafia dos nomes estrangeiros; foi sempre procurado usar a forma mais comum, sem os absurdos de traduções exageradas tais como, por exemplo, Hermann por Germano. Hans por João, tão em voga durante e logo depois das duas guerras mundiais. Em alguns casos, usam-se as duas formas que eram usadas alternativamente para designar a mesma pessoa.

Com algumas exceções, as pesquisas limitam-se, do lado alemão, às gerações que emigraram da Europa e, do lado brasileiro, ao mesmo número de gerações.

A maior parte dos dados mencionados foram confirmados e são baseados em documentos autênticos, embora sejam, em geral, fontes secundárias. Outros, menos frequentes, foram obtidos de fontes primárias como, por exemplo, as certidões de nascimento de Paulo e Augusta Sutter ou as certidões de batismo de João e Adélia Medeiros. Detalhes de colaterais foram colhidos com parentes ainda vivos. A saga dos Medeiros até os Açores está, como o título do capítulo indica, um pouco romanceada.

A genealogia dos Baumgarten na Alemanha foi baseada nos estudos de Adalbert e Horst Baumgarten (Blumenau em Cadernos, fevereiro de 1993).

As histórias de João Medeiros, Alfredo Baumgarten, Luiz Medeiros, e Hermann Baumgarten, publicadas por Blumenau em Cadernos, aparecem transcritas nos Apêndices.

Vem de longe, muito longe

Se não foi, poderia ter sido

A história, quando vista de longe, é sempre um entremeado de fatos, versões e – por que não ? – ficções. A saga aqui cantada não é exceção. Relata o quase romance de uma família de muitos nomes, que vem de longe, muito longe, e que poderia mesmo encher todo um livro.

Pegadas relativamente firmes deste muitos nomes aparecem em menções esparsas durante mesmo mais do que o último milênio.

A primeira foi de um Holtz, o primeiro cujo registro sobreviveu ao tempo. De onde ele veio, se alguém alguma vez soube, ninguém mais sabe.

Abraham Holtz aparece em 774 AD, em Eresbourg, cidade da antiga Saxônia (onde hoje é o Holstein). Seria ele Abraham, Abrahim ou mesmo Ibrahim ? – as grafias divergem, pela omissão das vogais no original. Bem, de toda a forma, o que se sabe é que este primeiro Holtz emprestava dinheiro a juros, com lastro em uma fortuna talvez feita por seu pai, carpinteiro naval. Com a conquista do estuário do Elba por Carlos Magno e a subseqüente cristianização da região, Abrahim Holtz desapareceu, e não há notícia sobre o que teria acontecido à sua cobiçada fortuna.

Como esclarecimento, vale lembrar que outro carpinteiro Holtz, de Gottenburg, tipo pitoresco citado de passagem na história da Dinamarca de um século mais tarde, nada tem com a linhagem aqui descrita. Gabava-se este de usar técnicas secretas de calafate que remontariam a Noé e que permitiam aos navios por ele preparados ficar vários meses no mar, sem necessidade de reparos no seco. A origem de suas técnicas nunca pôde ser comprovada; parece certo, no entanto, que o betume vinha das montanhas da Síria. Foi este Holtz o principal responsável pelo sucesso do navegador nórdico Olaf, o primeiro a chegar à América e conseguir voltar.

Um banqueiro Abraham Holtz aparece por volta de 790 financiando o exército do rei saxão inglês Offa. Seria o mesmo? Tudo leva a crer que sim, já que a Inglaterra era então governada por compatriotas – talvez até parentes – saxões e estava protegida do odioso domínio franco. Daí em diante, um ou outro elemento da família aparece quase que habitualmente nas crônicas inglesas. Há registros de que a família Holtz financiou quase todos os reis que se seguiram, tomando-se peça chave na defesa do reino contra os freqüentes ataques dos vikings. Um Eliah Holtz foi aprisionado e torturado por ordem de Canute, logo após a conquista do trono; teimava o simplório em cobrar um empréstimo feito ao antecessor, Eduardo, o mártir, justamente para a luta contra o invasor dinamarquês. Necessidades financeiras cada vez maiores forçaram a libertação de Eliah e a continuidade dos providenciais empréstimos dos Holtz, não somente para o próprio Canute como para aqueles que o sucederam.

A influência normanda, depois da invasão de Guilherme, fez com que o nome Holtz sofresse a primeira de suas muitas transformações, traduzido que foi para Wood e posteriormente simplificado, ou corrompido, para Hood.

Um banqueiro judeu inglês de nome John Wood, freqüentador da corte e financiador de Henrique II, foi por este agraciado em 1168 com o título de Conde de Locksley, em troca do perdão de uma dívida não paga pelo Soberano. Dizem alguns que houve também uma forte pressão da rainha Eleanora, de quem Wood parece ter sido um dos favoritos. Locksley teve suas propriedades confiscadas e foi decapitado quando se negou a financiar a campanha contra o rei de França, ex-marido da rainha sua amante. Outros registros dizem que sua morte foi decidida por Henrique, ao descobrir que o conde era o verdadeiro pai de seu caçula, e predileto, João.

O segundo conde, Robin de Locksley, teve seu título restaurado por Ricardo l após o regresso deste das cruzadas. Não é certo que tenha acompanhado o rei à Terra Santa nas lutas contra Saladino, como querem alguns. Ainda jovem, e segundo Conde de Locksley casou-se com uma israelita, Marian (ou Myriam), filha de mercador e protegida de uma família nobre. Junto com Ricardo, acabou indo lutar nos territórios continentais, ficando por muito tempo na Normandia, onde foi mais conhecido como Robin des Bois, numa segunda das muitas traduções que seu nome viria a sofrer. Após a morte do Rei, regressou para junto da mulher, na sua Inglaterra natal, onde faleceu após uma vida repleta de aventuras. Deixou em Caen seu primogênito Luitpold (Leon ou Luís) des Bois (ou Dubois ou ainda Debois, dependendo da fonte).

Luís Debois ficou conhecido por juntar um exército com o qual embarcou em uma cruzada, com o objetivo de liberar a terra de seus antepassados e voltar a formar um estado judeu independente. Não chegou porém ao oriente, optando por ficar em Lisboa, porto de reabastecimento na longa rota para o levante. Suas tropas, atraídas pelo prêmio dos saques, acabaram integrando as forças de Afonso H na tomada de Alcácer, um dos últimos bastiões mouros no Algarve.

Depois da reconquista, apesar de nunca terem seu título de nobreza reconhecido em Portugal por serem judeus, os Debois tiveram uma vida sem grandes turbulências ‘por mais de três séculos, sobrevivendo às pestes, terremotos e incêndios até os tempos de el rei D. Manuel, chamado de venturoso. Aliás, venturoso e piedoso, ou, pela avaliação de hoje, carola mesmo; sua contínua preocupação durante todo o reinado foi importunar o Papa, atrás de uma bula que permitisse aos padres rezar, cada um, três missas no dia de finados. Apesar de tudo isto, seu reinado foi um tempo de grande progresso para os judeus portugueses, o que fez logo prosperar grandes invejas nas classes privilegiadas, que se sentiam ameaçadas por uma gente acostumada a uma vida de mais trabalho. Rendendo-se às pressões da invejosa nobreza, D. João III, que havia sucedido ao Venturoso, repetindo o que haviam feito seus aparentados reis católicos de Castela, pediu ao Papa o privilégio da instalação da Inquisição em Portugal, dando a seus súditos judeus a opção entre a conversão, o desterro ou a fogueira. Os Debois, como tantos outros, tornaram-se cristãos novos.

Foi assim que João Aachin Debois passou a ser Joaquim Madeira. Pela mesma razão que fez os nossos Diogo Álvares Correia e João Ramalho virem para o Brasil, Joaquim e seu irmão Miguel Madeira, assustados com o ressurgimento de um anti-semitismo violento e pressionados pela proibição da prática do judaísmo, juntaram suas famílias e mudaram-se para os Açores em 1536, tentando ficar longe das vistas do Santo Ofício.

Não parece verdadeira a história de que teria sido um dos filhos de Joaquim Madeira quem resistiu durante dois anos inteiros, na ilha Terceira, à anexação de Portugal por Felipe II, em 1580; Diogo Madeira foi apenas ajudante-de-ordens (e genro) do comandante luso Felipe Nuno Álvaro de Souza, descendente, em linha materna, do Condestável. De qualquer maneira, a verdade é que os Madeiras pareciam pressentir os dias difíceis que estavam por vir sob o domínio espanhol, com uma Inquisição que terminou por fim conseguindo extirpar das ilhas os últimos vestígios de judaísmo. Os netos e bisnetos de Joaquim e Miguel já foram cristãos velhos.

O passar das gerações e o dialeto açoriano fizeram com que os Madeiras passassem a Medeiros, nome até hoje dos mais comuns no arquipélago.

Em meados do século XVIII, as ininterruptas guerras com o inimigo castelhano no sul do Brasil fizeram com que o governo português decidisse estimular a colonização daquela região. Os açorianos receberam especial incentivo para a emigração, mas exigia-se deles a vinda em casais, já que na despovoada Zona Medianeira as probabilidades de casamentos seriam muito remotas e era mister perenizar a colonização.

Foi assim que duas famílias Medeiros vieram para esta Terra de Santa Cruz em 1748. Uma delas, ao que parece atraída pelas Oportunidades geradas pelo açúcar do nordeste, ficou na Paraíba do Norte; a outra veio para a vila de Laguna, na Capitania de Santa Catarina, então foco da colonização da Medianeira.

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