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Como montar sua árvore genealógica parte 1

Atualizado: 20 de dez. de 2019

Minha família mergulhou comigo na minha obsessão em pesquisar nossos antepassados. Na foto, minha prima Ana Luísa pesquisando no Arquivo Histórico de Joinville-SC e meu primo Gustavo no museu do FamilySearch em Salt Lake City, nos Estados Unidos.

Existem várias maneiras de montar uma árvore genealógica. Vou contar como cheguei à minha que hoje tem 562 pessoas e mais de 15 gerações. Você pode pular também para as dicas práticas no próximo post: “Como montar sua árvore genealógica parte 2“.

Comecei pela mais importante, mas nem sempre exata: história oral. Em um pedaço de papel, desenhei a árvore baseada em informações do meu pai, tios e avós, com nomes e datas que eles lembravam — e muitos apelidos. Inclui sem piedade o “caloteiro”, o “bebum” e o “taradinho”, até descobrir suas verdadeiras identidades (não me pergunte quem são, pois não revelo a identidade de nenhum).

Quando o projeto começou a ficar complexo, migrei minhas anotações para o MyHeritage, um site de árvore genealógica que permite cruzar informações adicionadas por primos distantes. Esse é o período mais difícil, pois existem muitas informações desencontradas e ainda não guardamos na memória o nome de tantos antepassados distantes. Continue adicionando o que você sabe, mas deixe anotado quais dados ainda precisam ser confirmados.

O MyHeritage permite gerar vários gráficos, incluindo um livro de família completo

Por sorte, tenho um tio-avô e dois primos-avôs que organizaram parte de minha árvore genealógica em contos (Medeiros de Armando Luiz Medeiros, João José de Souza Medeiros de Cássio Medeiros e D. Cydolina, Minha Mãe de Francisco Xavier Medeiros Vieira).

Depois de coletar todas as informações, voltei para meu pai, tios e avós em busca de documentos: certidões de batismo, nascimento, casamento e óbito. Fui confirmando grafias, adicionando datas e cruzando informações. Essa etapa é muito importante. Mesmo com muita pesquisa você vai encontrar erros: a data de nascimento de minha trisavó*, por exemplo, está errada no seu túmulo, o que de acordo com minha tia-avó Míriam é mais comum do que pensamos (ela é advogada e já pediu correção de algumas sepulturas de familiares de clientes). Dica: certidão de óbito costuma conter erros de informação, pois geralmente quem a registra não é a pessoa mais próxima ao falecido, diferente da certidão de nascimento e casamento.

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De acordo com o túmulo de minha trisavó* Adélia Medeiros, seu nascimento ocorreu em 19/3/1876. Porém de acordo com sua certidão de batismo, ela teria nascido em 1875, não 1876.

Nesta etapa eu já tinha conhecido uma dúzia de primos distantes. Pessoas curiosas como eu que estavam em busca de documentos e estão sempre dispostas a colaborar. O marido de uma prima distante, o Gonzalo Vilarreal Rocca (que me encontrou pelo Facebook), me ajudou a descobrir informações inéditas para as duas famílias e acabamos publicando juntos a biografia de meus trisavós* (A história de amor entre dois filhos de escravas em SC: Francisco Xavier Vieira & Thecla Maria de Jesus). A prima mais nova de meu avô, Marta Helena, me deu de presente a árvore genalógica completa da minha bisavó materna biológica, falecida quando meu avô tinha apenas 4 anos. A prima de minha mãe, Henriqueta, me enviou a cópia da certidão de casamento de nossos trisavós* filhos de mulheres escravizadas encontrada por seu pai em São Paulo na década de 80 com os mórmons.

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Transcrição da certidão de casamento de Francisco Xavier Vieira e Thecla Maria de Jesus

Se você tiver a sorte de ter pessoas conhecidas na família, um google é sempre bem-vindo. Um dos ramos da minha avó descende de importante educadores. Biógrafos acadêmicos, por sorte, pesquisaram e escreveram sobre eles. É o caso do Professor Balduíno Antônio da Silva Cardoso e do irmão de Alfredo Xavier Vieira, o Plácido.

Foto da inauguração da escola que leva o nome do meu tetravô publicada no artigo de Valéria Aparecida Schena e Névio de Campos “Grupo escolar Balduíno Cardoso de Porto União-SC: apoteose do não apoteótico (1917-1938)”

Se você descende de imigrantes como eu (e 95% da população brasileira), pode encontrar registros de navio que trazem, entre muitas informações, a cidade de origem e destino, o que pode levar a novas descobertas. No Museu de Imigração Japonesa, peguei em mãos os livros do navio japonêss Wakasa-Maru que trouxe meus bisavós de Kobe no Japão ao porto de Santos em São Paulo. Descobri suas datas de nascimento e endereços originais.


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Se você não tem documentos de um avô ou bisavô, vale a pena descobrir qual cartório ele foi registrado e retirar a segunda via. Você precisa pagar uma taxa e saber a data exata. Sem ela fica difícil, mas não impossível. Fui com minha irmã ao interior de Pernambuco, na cidade de Escada, em busca da certidão de óbito de minha avó paterna e, por fim, encontramos depois de três horas de espera. Não preciso dizer que não é obrigação do atendente buscar registros da sua avó, página por página, em livros empoeirados. Nessas horas, você precisa virar jornalista e conquistar a fonte. A escrivã disse inicialmente que não teria tempo (estamos falando de um espaço de 5 anos em livros escritos à mão), mas ao ver nossa insistência (e entender que tínhamos viajado de Florianópolis a Pernambuco para encontrar essa informação), ficou compadecida. Você também precisa estar disposta a aguardar: eu prometi a ela que não prejudicaria o atendimento. A cada cliente novo, eu me sentava e aguardava o cartório ficar vazio para continuar a pesquisa. Ficamos sabendo de todos as mortes e nascimentos da cidadezinha naquele dia (incluindo conflitos de herança e detalhes do defunto). Quando encontramos o registro de minha avó, a escrivã ficou até emocionada.

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Segunda via da certidão de óbito de minha avó paterna que faleceu aos 30 anos de idade de infeção intestinal, informação que não tínhamos até 2016.

Neste momento, com muitos documentos e informações confirmadas em mãos, criei com ajuda de voluntários mórmons da biblioteca de Salt Lake City (os maiores especialistas em genealogia do mundo) minha árvore genealógica no FamilySearch. Utilize este site apenas quando tiver informação suficiente em mãos, pois diferente do MyHeritage, que conecta árvores entre primos, o FamilySearch tem por objetivo ser uma única árvore genealógica mundial. A sua modificação em um tetravô* pode afetar 500+ descendentes. Por sorte, tudo é registrado no histórico dos antepassados (apontando publicamente, inclusive, o usuário responsável pela modificação). Pelo bem de pessoas que pesquisam há anos: não atualize registros sem ter confirmado a informação em pelo menos duas fontes.

Boa sorte!

* Nota: a palavra tataravó se refere, originalmente, à tetravó (a avó de sua bisavó). No Brasil, se difundiu popularmente o uso da palavra como referência à mãe da bisavó (trisavó). Aqui no blog, evito o uso da palavra tataravó apenas para evitar confusão. Os dois usos são considerados corretos. Como utilizo: mãe > vó > bisavó > trisavó > tetravó > pentavó, etc.

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