Como interpretar um teste de ancestralidade via DNA: seria meu trisavô Potiguara?
- Juliana Sakae
- 5 de mai. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de dez. de 2019
Sempre tive curiosidade de fazer um teste de DNA para saber de onde sou. Com pele morena, olhos puxados, cabelos bem lisos e negros (eu juro que não pinto), saí com cara de havaiana, filipina ou índia americana, logo etnias que [acho] não tenho relação alguma.
Minha mãe, falecida há alguns anos, lindíssima, era uma mistura entre portugueses, espanhóis, negros e índios. Como estou pesquisando sobre nossos antepassados, resolvi que faria o teste de DNA dos meus avós maternos e do meu pai [o resultado eu conto aqui].
Engana-se quem pensa que os números mostram a etnicidade de uma forma matemática. É preciso entender como é feito o teste para interpretar o resultado. No caso do Ancestry.com, eles comparam com uma base de dados de mais de 5 milhões de pessoas e de amostras de 334 “grupos genéticos” coletadas por pesquisadores. São tantas interpretações que eles têm até um site dedicado a isso.
Os números são altos, mas ainda precisam melhorar. Por exemplo, o DNA da minha avó, que é 4% indígena, foi comparado com amostras de apenas 131 pessoas:

O meu avô tem a porcentagem um pouco mais alta (6%). Minha teoria é de que um dos seus trisavós foi Potiguara, já que a família dele vem de Escada (PE) e sua avó era conhecida por ser “cabocla” [entre muitos significados, utilizarei o que pertence à história oral da minha família, que é “filho de branco com índio”]. Para tanto, precisamos entender primeiro como herdamos o DNA:

Uma mãe representa 50% do nosso DNA e uma avó, 25%. Pelo resultado, existem algumas interpretações possíveis: que um trisavô era indígena (primeira linha acima), ou dois antepassados mais distantes, talvez dois tataravós (3% + 3%). A combinação é infinita. A primeira teoria:

Uma coisa é certa: seu bisavô ou bisavó não eram indígenas, mas descendentes diretos [nota: sei que estou sendo simplista, pois quando deixamos de ser o que nossos antepassados eram? Poderia fazer um post apenas sobre identidade cultural vs. etnicidade].
O problema é que não transmitimos o DNA em proporção. Por exemplo, vamos pensar que exista uma pessoa que seja 50% indígena e 50% portuguesa, a Maria. A filha de Maria, a Zezé, herda apenas metade disso em proporções aleatórias. O resultado dela pode ser 30% de DNA português, 20% indígena, e 50% do pai. Além disso, seu pai pode ter DNA 50% português que vai somar com o DNA de Maria. Ou seja, no caso do meu avô, seus 6% podem ter vindo de duas pessoas combinadas.
Essa aleatoriedade que faz com que irmãos tenham resultados diferentes (com exceção dos gêmeos univitelinos). Por exemplo, eu e meu irmão Rodrigo devemos ter herdado da minha mãe muito mais a parte africana e indígena que minha irmã Fernanda. Olha que fofura nós três na frente da casa dos meus avós:

Balneário do Estreito. Florianópolis, SC – 1989. Foto tirada pela tia Bea Gubert
Eu recebi o resultado de DNA há uma semana e descobri que tem muito trabalho pela frente para desvendar as origens da minha família. O teste é só um guia que, combinado com pesquisa, pode dizer algo sobre nossas raízes.
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* O Ancestry não patrocinou esse post [mas deveria, né?]. Mas se você usar esse cupom, eu ganho $10 e você ganha 15% de desconto. Acho bem justo 🙂 [link aqui]
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